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A história da borra de café – por Lídia Lino

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Uma amiga nossa, muito sábia e querida, tem o hábito de ler o fundo das xícaras de café. Ela diz coisas como “a maneira com que esta figura se formou no fundo da louça, num semicírculo trêmulo, me diz que você tem alguns ciclos para encerrar, e que o fim não vai ser fácil, mas vai ser bom.”

Um dia, perguntei onde ela aprendeu essa arte, que tem até nome – cafeomancia. E ela, com a cara mais lavada do mundo, respondeu: “eu invento!” E, ao me ver com a surpresa estampada no rosto, ela continuou. “Eu fico ali, contemplando o desenho que se formou no fundo da xícara, intuo uma interpretação e, se eu achar que faz sentido, eu digo.”

Rimos muito, e naquele instante, me formei cafeomancióloga também. A partir daquele dia, comecei a reparar nos fundos de todas as minhas xícaras de café e a tirar das imagens que se formavam na louça, significados ocultos e pequenas premonições. Não é que eu acredite que adquiri poderes mediúnicos, nem que esteja esperando uma mensagem do Universo em forma de borra de café. Apenas gosto de praticar o esporte de ver com calma, ver de perto, ver sensível.

Ter uma calcinha menstrual com forro branco eleva esta prática lúdica e artística a outro patamar: o útero envia a mensagem no sangue menstrual, meu corpo a revela no forro da calcinha, meus olhos decifram os códigos, o cérebro interpreta, coração agradece.

E, ao contrário do café, o sangue menstrual é ainda mais generoso na mensagem: tem textura, tem cheiro, tem cor e tudo isso também é sinal do que se passa dentro. É toda uma sinfonia silenciosa que acontece, só porque um dia eu resolvi parar pra ver de perto quem eu sou: uma tela em branco cuja pintura maravilhosa e viva se modifica todo mês.

Texto: @lidialino

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